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sexta-feira, 18 de março de 2011

I don´t care

Capítulos devidamente postados abaixo, eu volto assim que possível.
Enquanto isso, a música que me deu o melhor conselho que recebi na vida, viver com o foda-se ligado:

http://www.youtube.com/watch?v=xQU7MV9uSt0

http://www.youtube.com/watch?v=_p-HMo1UPfc



Capítulo 4


4. “Wipeout!”

Além da aparelhagem do Hank, as crianças tinham uma vitrola para usar. Eu sei como era porque eu também tive: eram portáteis e coloridas. Eram como uma maleta, você abria e de um lado era o alto falante e do outro o toca discos. Alguns vinham com rádio. Só que eles ainda não tinha os dicos de rock, Mickey juntou o dinheiro obtido no Haloween e parou de comprar figurinhas de baseball para juntar 58 centavos de dolar. Jeff e ele foram de bicicleta até a loja comprar o primeiro disco de sua coleção.  O primeiro que eles compraram foi o de Leslie Gore: It´s My Party. Mickey escolheu, já que o dinheiro era dele. Seguido pelos discos The Wanderer –que aqui no Brasil teve uma versão do Erasmo Carlos – Lobo Mal, e uma classe A do Boris Pickett´s – Monster Mash (procure no youtube!).
Quando eles não ouviam disco, ouviam rádio. Jeff desinteressou-se de todo o resto que não fosse rock´n roll. Eles gostavamd e assistir TV spabado de manhã, do Rin Tin Tin, entre outros que não chegaram ao Brasil na época. E a maleta de discos compacto simples 45 rpm ia se enchendo.
Jeff já era bem alto nesta época, com pernas compridas. Eles tiveram que lidar, além da questão da separação, com o ciúme do pai. Eles passeavam no Cadillac conversível de capota arriada, o que eles não gostavam, pois estrava os topetes que eles faziam com tanto cuidado. E o barulho enquanto o carro rodava não deixava ouvir o rádio. Sempre que ouviam as músicas que gostavam, o pau ficava debochando fazendo micagem das letras, e eles morriam de vergonha. Passavam finais de semana em ranchos onde eles pediam aos músicos o tempo todo para tocarem Wipeout!, admirando os caras e suas namoradas. Sonhavam em ver as verdadeiras bandas que ouviam no rádio. De tanto pedir, o pai foi com eles ao show dos Animals, que eles queriam ir sozinhos, mas como eram muito crianças, o pai foi junto. E ficou muito contrariado com a adoração que eles tinham pelas bandas, com seus paletós de lantejolas, que para ele eram coisas afeminadas, e ele queria que seus filhos fossem machões e fortões, o que eles já demonstravam que não queriam ser.
Foi nesta época que ele corrigia a postura do Jeff, que ele começou a ter um tique nervoso de enrolar uma mecha de cabelo em volta do dedo quando estava constrangido. O pai implicava muito com isto. Ele não era adepto do estilo machista nem fisicamente. Mas, ainda assim, o pai os tratava com carinho e os abraçava forte, quase tirando o fôlego deles. Eles gostavam de cantar juntos, especialmente uma música que o pai ensinou: Show Me The Ways Back Home (me mostre o caminho de casa), que eles cantavam fingindo que estavam patinando. Assim, o pai uma hora estava fazendo mímicas e sendo engraçado e na outra estava furioso, e quando isto acontecia eles não viam a hora de voltar para a casa de Howard Beach.
Eles já estavam um pouco mais acostumados a este local, mas eram vistos como forasteiros ainda. Então adotaram uma gata de rua que chamaram de pink porque seu nariz era cor de rosa. Ela não podia entrar no apartamento, mas ela estava sempre na escadaria. Ela os confortavam com seus problemas que eles desabafavam com ela. Foi sua melhor terapeuta.
Finalmente, eles se mudaram para Forest Hills, não sem antes provocar os irmãos Garillo sabendo que não voltariam. E de volta ao velho bairro, o velho inimigo Storch estava lá para perturbar Jeff. Ali era um bairro de judeus esnobes e eles eram discriminados por ter pais divorciados. Apesar dos alunos da escola local serem mais cultos, Jeff continuou a ter problemas com a covardia e o bullying e sempre voltava para casa com a marca da sola de um tênis nas costas da camiseta.
Eles faziam piada comparando Jeff com o mascote de uma loja de brinquedos chamado Geoffrey Giraffe. Ele revidava chamado Mitch de Patolino, por causa dos dedos.
Muitos acontecimentos culturais agitaram os US naquela época, perto da casa deles. E houve o assassinato do presidente Kennedy, mas o maior impacto na vida deles foi a beatlemania. O marketing viral que os produtores dos Beatles fizeram com o intuito de aproveitá-los como o melhor produto rentável da época criou a indústria de shows que temos hoje. Antes de chegar aos US para o primeiro show, mesmo sem a internet, eles já tinham viciado a garotada nas músicas e material a venda sobre a banda. Para assistir ao show deles na TV, eles fizeram até lição de casa antecipadamente. A invasão das bandas inglêsas após a lucrativa empreitada com os Beatles trouxeram os Rolling Stones e outros, prejudicando o estilo local que tinha como ícones os Beach Boys e Chubby Checker. Até o pai deles já não conseguia encontrar uma estação de rádio que tocassem música norte americana. Apenas a soul music continuava forte nos US. Todos tinham que falar com sotaque britânico e ter cabelo tijelinha para estar na moda, e eles não tinham, pois eram muito novos para ter autonomia em deixar o cabelo crescer e se fingir de inglês.  




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Link para a música the wanderer


http://www.youtube.com/watch?v=5m6lymJy57E


a clássica do surf e eterna Wipeout


http://www.youtube.com/watch?v=XmGqbOxzAwg&feature=fvst

Os Amimals

http://www.youtube.com/watch?v=mmdPQp6Jcdk


a única way back home que encontrei mais provável foi esta, e que Joey me ilumine:

http://www.youtube.com/watch?v=ir1A74UA2YE

Capítulo 3


3. Você se lembra da rádio rock´n roll?

O primeiro padrasto deles, Hank Leshser, é descrito como excelente pai, mesmo não sendo seu pai biológico, e alguém extremamente culto.  Ele ajudava muito Jeff com as lições da escola, e seus dois filhos, David e Reba, que também moravam com eles, se tornam seus companheiros, mas os laços entre Mickey e Jeff se estreitam mais devido a separação.
Eles conhecem o radinho de pilha, com um fone de ouvido, o que para a época teve o impacto do Ipod e dos Mps algum tempo atrás. Eles insistem com o pai que lhes dá de presente um para cada, e assim eles se reconectam ao rock.
A escola se torna um pesadelo para Jeff, que sofre constantemente com bullying e as mais variadas zombarias, pois era alto demais, muito magro e desajeitado. O espaço fíciso da escola era mal cuidado, foi apenas um ano mas que demorou uma eternidade para passar.
Eles se divertiam brincando num terreno enlamaçado onde havia algumas construções. Os garotos dali se dividiam em gangs  e a dos irmãos Garillo era a pior. Numa guerra de bolas de lama, Jeff é humilhado por seu irmão adotivo já que não consegue correr rápido como os outros. Mickey perde um dente com uma pedrada. O resultado não foi pior graças a Hank que passava por ali. Na conversa antes de dormir, Jeff pergunta a Mickey porque o garoto o insultou chamando-o de bicha, e Mickey contemporiza, dizendo que o outro é que era bicha. Jeff associa letra de música a seus problemas.
Ouvindo garotas fofocando e cantando na rua sob sua janela, eles conversam sobre garotas e Jeff confessa que já gostou de uma.  Mas foi um amor platônico. Suas fantasias após este, as vozes das garotas rindo e cantando “The Lion Sleeps Tonight” lembranças que os acompanhariam por muito tempo. 
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Link da música para quem não a conhece:



Uma versão hilária que se cantava na época em que Joey era adolescente:


Capítulo 2


2. O dia em que a musica nasceu

Jeff vai à escola!!!!!!!!!!! E a professora pede a mãe para levá-lo ao oftalmo, e ele começa a usar os seus famosos óculos (ainda não os que entraram para a história).
Como por causa dos problemas de visão Jeff recebe aulas de reforço da mãe, Mickey aprende muito e até o que seria o vislumbre de seu talento: a música. Ele ouviu no rádio uma música que gostou muito e que chamava  de “Ay Ya Ba Ba”. Mas, quando conta a Jeff, a mãe, rindo litros, explica que na verdade era a música La Bamba -  de Ritchie Valens. Jeff teve escarlatina, o que preocupou imensamente a todos, mas se recuperou.
Porém, eles nunca se recuperariam da separação de seus pais, quando Mickey tinha 5 e Jeff 8 anos de idade. A mãe começa um novo relacionamento. Eles se mudaram para Howard Beach, e ali passaram a sofrer inúmeros problemas, Jeff sofre com a zombaria de outras crianças e Mickey começa a perceber que ele é diferente das outras crianças.
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Volto a lembrar que este relato é do Mickey Leigh e não temos confirmação do fato já que ambos, Joey e sua mãe estão vivendo no plano espiritual, Joey no Olympo dos que contribuiram para o progresso na terra.
Mas, historicamente, se confirma o fato que Joey tinha problemas congênitos de saúde. Quando ele passou por São Paulo - e por vários lugares do Brasil - pela última vez, estava muito mal de saúde e nós até conseguimos uma avaliação com uma excelente especialista mas ele não teve disponibilidade de ir, já que tinha que viajar para Porto Alegre.
Ele tinha problemas de coluna, isso pressionava o estômago causando uma doença terrível chamada hérnia de iato, tinha crises de enxaqueca, enxergava muito pouco e neste último show dos Ramones e durante toda a tour ele estava constantemente apoiando a cabeça nas mãos e suspirando agoniado:

-Oh, my head!

A notícia do câncer não nos surpreendeu depois de tão triste episódio. Mas sua morte, esta sim.
Numa época em que as escolas eram ditatoriais e o sistema implacável com quem tivesse qualquer necessidade especial, este período foi muito sofrido na vida dele, assim como de todas as vítimas de bullying e da covardia, nas quais me incluo.

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Link da música:


http://www.youtube.com/watch?v=74C_gVCT2wU



Capítulo 1


1. Eu dormi com Joey Ramone - e com sua mãe também!

Neste capítulo Mitch conta:

Seus pais, Charlotte Mandell e Noel Hyman cresceram a poucos quilômetros um do outro no Brooklin, em Nova Iorque.
Estranhamente, eles se encontraram pela primeira vez a centenas de milhas de distância no resort Nevele em Catskills. A área de cima do estado conhecida como Borscht Belt que tinha se tornado um ponto de encontro pós segunda guerra para os jovens de origem judaica.
''Felizmente para meu irmão e eu, sem contar milhares de fãs dos Ramones, nossa mãe e pai se encontraram, na véspera de ano novo em 1946.
Eles se conheceram quando minha mãe Charlotte tinha 19 anos e aos 20 casou-se com Noel. “Eu queria sair de casa” - ela disse.''
Os pais de nosso pai nasceram no Brooklin, descendentes de judeus europeus de recursos modestos. Os pais de mamãe também  nasceram no Brooklin e judios, mas eram mais bem sucedidos. A família de Charlotte não estava muito otimista com o casal.
“Eu não estava vivendo de acordo com as expectativas do meu pai”, Charlotte explicou. “No começo, Noel era divertido. Era um cara mais velho, com um conversível. Eu queria animação na vida e ele também. Tivemos bons momentos juntos.
 Depois de casados foram morar num apartamento simples, na rua 95 no Upper East Side Manhattan.
Noel era muito trabalhador e proprietário de uma pequena empresa de transporte em caminhões chamada Noel´s Transfer. Charlotte saiu do emprego como artista comercial em uma agência de publicidade quando ficou grávida do meu irmão mais velho.
Jeff Ross Hyman nasceu em 19 de maio de 1951, no hospital Beth Irael em Manhattan. O jovem casal e seus mutuamente estasiados familiares comemoraram a alegria da chegada de Jeff, mas o abençoado dia não passou sem extrema aflição. A maior sobrecarga na vida do meu irmão tinha, na verdade, se formado antes que ele desse seu primeiro suspiro. Conforme a natureza quis o que deveria ser um outro feto que nunca se desenvolveu estava anexo a espinha. O termo médico para esta condição é “sacrococygeal teratoma”; que descreve o tipo de tumor com células  muito diferentes dos tecidos circunvizinhos. Isto ocorre em cada 35 a 40 mil nascimentos, com 76 por cento afetando meninas. Se o tumor é rápidamente removido, o prognóstico é bom. Se elementos do teratoma sobrarem – ou o diagnóstico for tardio – o risco de malignidade aumenta. Quando ele nasceu com  2.800 kg o teratoma era do tamanho de uma bola de baseball.
A cirurgia para remover o teratoma era extremamente  arriscada, devido a localização da massa, mas era inevitável; pois complicações piores poderiam ocorrer se o deixassem intacto. Algumas semanas depois, quando os médicos julgaram o corpo pequeno de Jeff forte o suficiente para suportar o trauma da cirurgia, o procedimento foi completado com sucesso. Algumas cicatrizes no tecido espinhal foram inevitáveis, o que poderia causar problemas neurológicos estrada afora. A extensão destes problemas seriam determinadas pelo tempo, mas os médicos estavam esperançosos que não haveria um efeito devastador, ou pelo menos, no desenvolvimento do Jeff.
Dois, aliviados pai e mãe  trouxeram Jeff de volta á saúde, e parecia que meu irmão maior estava a caminho de crescer um garoto feliz e normal.
 Mais ou menos um ano depois, papai, mamãe e Jeff foram para o Queens, se estabelecendo num reduto judeu de classe média chamado Forest Hills. Eles se mudaram para um apartamento ajardinado, aconchegado numa esquina da vizinhança, próximo a intersecção da Long Island Expressway e Grand Central Parkway. O apartamento deles era convenientemente localizado entre os dois maiores aeroportos da cidade: os aeroportos de La Guardia e Idlewild.
Na frente da casa, havia uma passagem sobre uma ponte que te levava para dentro do imenso Flushing Meadow Park, o local da Feira Mundial de 1939. O parque tinha o lago Meadows, onde a população podia alugar barcos a remo durante o dia e a noite assistir queima de fogos no verão. Forest Hills era uma comunidade pequena e amigável, um lugar divertido para crianças crescerem sadias e seguras.
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Então uma noite em outubro de 1953, pelos impulsos instintivos do papai e rendição de mamãe, eu comecei a me formar. Nove meses depois, eu me encontrei com eles e Jeff pela primeira vez.
Eles me deram o nome de Mitchel Lee Hyman.
Nasci em 15 de julho de 1954 no hospital geral de Forest Hills, eu passei na inspeção apenas com membrana nos dedões dos pés anotadas no meu registro permanente. Papai nos levou de carro para a casa nova que eles haviam recentemente adquirido para a família em expansão. Era do outro lado da rua do conjunto de apartamentos ajardinados em que eles moraram antes. Nossa casa tinha um ótimo quintalzinho dos fundos, com uma cerejeira pequena, e conforme Jeff e eu  crescíamos, ela também crescia.
 Jeff era um bom irmão maior, quando eu tinha medo a noite , fosse por causa de do barulho do foguetório através do lago ou após termos assistido a filmes como Invasores vindos de Marte, O olho rastejante ou A coisa, eu corria para sua cama procurando proteção:
- Socorro, Jeff – eu gritava - os monstros estão embaixo da minha cama e tentanto entrar aqui!
-Venha pra cá - Jeff oferecia, puxando as cobertas – pode dormir comigo, ficará seguro aqui.
Jeff tinha apenas 5 anos, mas parecia inconsciente dos perigos que se escondiam embaixo da cama. Talvez para Jeff, a vida real era suficientemente assustadora; a forma crescente da cicatriz na awpte inferior de suas costas sempre o lembravam de qual era o verdadeiro perigo.
Nossos amigos Reba e David moravam descendo a rua, e nossa mamãe se tornou boa amiga de seus pais, Hank e Frances Lesher.
- Eu me lembro - disse David Lesher – que nós costumávamos correr no estacionamento perto da minha casa e inventar brincadeiras malucas, como Doody Boy.
A brincadeira era basicamente inventar um nome glorioso. Em vez de “isto”, você era o Doody Boy. A principal estratégia era não ficar com o nome no final do dia, ou você teria que ir pra casa a pé com todo mundo rindo de você, berrando: Hey, Doody Boy! De qualquer jeito, Jeff frequentemente acabava machucando o Boy.
Um dia, nosso bando estava brincando no porão fracamente iluminado de um labirinto de fundação de apartamentos.
De repente, uma criança  gritou:
- Corram, tem um fantasma!
Todos nós gritamos e disparamos pra saída.
Mesmo com o berreiro das crianças, qualquer um pode ouvir o barulho do meu crânio se chocando com um tubo de ferro no caminho. Eu me encolhi no chão e comecei a chorar. A próxima coisa que aconteceu foi que Jeff me pegou dizendo:
- É melhor irmos pra casa!
Apesar de todo mundo estar fugindo, Jeff ficou para me levar embora dali.
O sangue cobria meus olhos e rosto. Jeff me abraçou, segurou minha mão e me levou pra casa para nossos horrorizados pai e mãe, que correram comigo para o médico. Tive a primeira dose de drogas pesadas e os primeiros pontos: 5 deles bem no meio da cabeça. Quando a anestesia começou a passar, eu abri meus olhos pra ver Jeff sorrindo pra mim segurando um mobile de aviõezinhos coloridos acima da minha cabeça. Ele tinha feito para mim enquanto eu dormia.
- “Cê gostou?” Jeff perguntou.
- Diga obrigado para o seu irmão maior – mamãe falou – ele te levou pra casa.
-‘brigado Jehhh.... – eu murmurei, ainda sonolento, enquanto papai pendurava o mobile que ele nos fez levantando no ar.
Na verdade, eu e Jeff não chamávamos nosso pai de “pai”. Nós o chamávamos de Bub. Um apelido que demos a ele quando ele chegava em casa e gritava:
- Hey Bub! – enquanto nos erguia para o alto.
- Hey Bub! – nós gritávamos em resposta a ele, repetidamente, pulando para uma segunda ou terceira volta. O nome pegou.
Nossa mãe era muito animada e amorosa. Estava sempre nos ensinando coisas, lendo histórias, ou mostrando-nos como desenhar. Ela se assegurava que ouvíssemos música de todo tipo, tudo desde canções infantis até clássicos como Pedro e o Lobo de Prokofiev. Fazíamos tudo juntos, como família. Mamãe, papai, Jeff e eu andavamos pelas ruas de mãos dadas, rindo.
Frequentemente recebíamos parentes e amigos para pernoitar em festas no porão, onde Jeff e eu eramos a atração principal, subindo no piano e cantando músicas como “When the saints go marching in” e “She´ll be coming round the mountain”.
Vovó Fanny, mãe do papai, comprou para Jeff um acordeão (sanfona) que ele amava.Ele aprendeu bem depressa, tocando de tudo em compasso “oompah” – provavelmente por ouvir muito Lawrence Welk. Eles me deram um ukulele, que eu adorava também. Infelizmente quebrou-se uma noite, deplois da nossa apresentação, quando ele pulando do piano e ele se espatifou no chão.
Um dia, depois de voltarmos para casa tendo visto pela primeira vez nosso primeiro circo no Madison Square Garden, Jeff exclamou:
-Hey, vamos tentar fazer igual o atirador de facas?
-É – eu disse – igual à fantástica família Fontaine!
Jeff pegou uma dúzia de facas de cortar bife da cozinha. Nós fomos para o gramado ao lado da casa e eu deitei no chão com os braços e pernas esticados. Jeff fez o barulho dos tambores.
Conforme ele fez voar a primeira faca, mamãe berrou da janela da cozinha:
- Jeffry! Não atire esta faca! – Bem na hora em que ela passava rente a minha cabeça.
- Ah, mãe, qual é? – eu expliquei – só estamos brincando de circo!
Ela veio correndo pra fora de casa com papéis e uma caixa de crayons (giz de cera).
- Nunca mais vocês dois brinquem com facas de novo, escutaram? Aqui, brinquem com isso – ela disse enquanto nos dava os crayons.
Logo que mamãe estava fora de cena, eu me estiquei de novo na grama e Jeff fez o rufar dos tambores e atirou os crayons em mim.
No inverno mamãe e papai sempre subiam conosco para Bear Mountain para patinarmos ou andar de trenó. No final do dia, nós entrávamos no  alojamento e jantávamos em frente a enorme lareira.
Uma vez lá em cima na Bear Mountain  inúmeras motos de escolta passaram bem na hora que entravamos no alojamento. Fomos aconselhados a esperar do lado de fora, no caminho da entrada, enquanto um desfile de  policiais e homens de terno escoltavam alguém que entrava.
- É o presidente! – papai gritou – acenem pra ele, quem sabe ele diz olá pra vocês!
Jeff e eu olhamos um para o outro e então começamos a pular gritando:
-Hey, presidente, diga olá!
Nós ficamos um pouco nervosos. Alguns meses antes,  estávamos na passarela sobre o Grand Central Parkway quando uma escolta de moto parecida passou embaixo. Naquele dia, nosso bando pegou alguns pedregulhos do lado da ponte atirando nos carros que passavam por baixo. Jeff Storch, o valentão da vizinhança, que sempre perturbava meu irmão, atirou uma pedra que acertou num dos carros na escolta. Pior que isso, alguns policiais estacionados na passarela nos viram fugindo. Jeff e eu agora ficamos com medo que o presidente estivesse sendo escoltado pelos mesmos policiais – que poderiam nos reconhecer. Mas, como não queríamos contar ao nosso pai sobre o incidente, continuamos acenando e gritando para o presidente.
Conforme ele se aproximava, nós chamamos sua atenção. O presidente dos Estados Unidos parou por um segundo e chamou os seguranças. Pensamos que estávamos numa enorme fria, mas antes que pudéssemos reagir estávamos apertando as mãos do  presidente Dwight D. Eisenhower. Ike (apelido do presidente) nos disse que era bom que fossemos bons garotose obedecessemos nossos pais.
Imaginamos que o presidente nos perdoou.
No verão, caminhávamos até o lago  Meadow   para pescar, fazer picnics, e navegar de barco a remo. Papai nos ensinou um jogo chamado: afundem o Bismarck. Colocavamos uma lata na água jogavamos pedras até afundá-la. Era nossa brincadeira favorita,  não tinham a menor idéia o que era o Bismarck.
Jeff tinha tendência a capturar borboletas, até teve um painel. Ele o montou num quadro especial com penduradores e escreveu o nome das espécies num espaço embaixo. A Mammoth Viceroy era a mais valorizada prêsa. O único problema era que Jeff nunca seguia as instruções de preservação e eles se desfaziam em menos de uma semana.
Jeff era um menino feliz como você podia ver em Forest Hills nos anos de 1950, rolando na grama, rindo, levantando, rodando em círculos com seus longos e lânguidos braços esticados e então caídos como um macaco atordoado.
Ele me pedia pra juntar-me a ele mas avisava:
- Não vomite me mim!
Eu fiz as duas coisas.
Nós encontramos maneiras de dividir simplesmente tudo: erguendo o outro em árvores em dias de sol e trocando os versos de “Oh! Susanna” no porão em dias de chuva.
Meu irmão mais velho era desinibido e intrépido, animado e talentoso, e , como disse antes, corajoso. Ele não era esquisito. Não era agressivo ou isolado, ou doente ou perturbado, ou solitário ou preocupado. Jeff era o menino sorridente, alegre, de pernas compridas, correndo atrás de borboletas, me chamando.
Quando fecho meus olhos e penso no meu irmão, estas são as primeiras coisas que eu vejo. 

Prólogo


Mickey começa contando a partir do dia em que se mudaram para “Forest Hills, no Queens, com uma vista espetacular de Manhattan”. Ele tinha terminado as aulas do high school – quase um equivalente ao ensino médio, mas muito mais pedagógico, e levou a namorada Arlene. Esta se surpreendeu ao entrar no quarto deles, com “uns objetos velhos em cima de uma cama, com alguns entulhos esquisitos e artefatos não-identificáveis, parecia até que iam criar vida própria. Meio que embaixo de tudo isso, estava” seu irmão Jeff, que mais tarde viria a ser o Joey. Os objetos: “um espelho de 10 polegadas esquisito feito por índios mexicanos, fitas de vídeo cassete, panfletos sobre East Village, uns livros de Lenny Bruce, e uma miniatura decorativa de uma guitarra stratorcaster. Aquilo sim podemos definir como lobotomia adolescente.
Lá se encontravam pilhas e camadas de roupas limpas e sujas misturadas. Camisetas, calças, meias, tênis, e um par de botas estranhas de couro, muito parecidos aqueles de Ian Anderson na capa do álbum Stand Up, do Jethro Tull. Para deixar tudo mais peculiar, aquilo tudo estava coberto com um casaco enorme com a bandeira do Afeganistão estampada.”
Ele continua:
“Logo ao lado, havia outra pilha de coisas, desta vez jornais, revistas de rock, papéis com rascunhos e várias embalagens. Vale ressaltar que cada uma dessas coisas estava intercalada com xícaras e pires usados como cinzeiros.”
O fã que está lendo se pergunta a razão desta descrição do quarto típico de adolescente que Joey tinha, mas é uma maneira de Mickey já preparar o leitor para o problema que perseguiu Joey por toda a sua vida. A namorada e ele passaram o tempo todo rindo da situação. Com o barulho, Jeff acordou.
Continuando:
“Ele começou a remover aquelas coisas todas de cima dele, e se levantou. Quando estava terminando de arrumar tudo, percebeu que estava sem calças”
Assim era o irmão dele Jeff,  que mais tarde veio a ser o nosso Joey.


Dez anos sem Joey Ramone

O ano de 2011 foi cheio de acontecimentos que chocaram a humanidade como o atentado às torres gêmeas. Mas bem antes disso, minha vida sofreu o pior de todos os golpes: uma das poucas (senão única) alegrias que eu tinha na vida que era ver aqueles que fizeram não só a trilha sonora da minha vida e seus principais momentos, mas criaram um novo jeito de ser, e participar de um ritual que era assistir a seus shows com os ''amigos'' e todos gritarmos, berrarmos celebrando a energia de estarmos vivos e podermos mudar os erros deste mundo, perdeu-se para sempre. Jeffrey Hyman, o meu amado ídolo Joey Ramone, após longo sofrimento e ter derrotado uma vez uma doença terrível que é o cancer, teve uma recaída e após um período de melhora que deixou tranquilo Marky Ramone (naquéla época passando um semestre inteiro na América do Sul e longo tempo na cidade em que nasci e morei a maior parte da vida - São Paulo) faleceu no dia 15 de abril de 2001. 
Este dia também matou o último sopro de juventude que eu pudesse ter, a última esperança de poder esperá-lo no aeroporto, ir ao hotel conversar com ele, mesmo que por poucos minutos e me abriu os olhos para uma série de mentiras que eu andava vivendo, mais atenta a esperar por suas ocasionais vindas ao Brasil que perceber que viva cercada de falsidade, interesse e ganância. Neste mesma época, houve a privatização de quase tudo no Brasil e milhões de pessoas ficaram desempregadas em idade considerada obsoleta pelo mercado de trabalho. Sabíamos que o último dia de trabalho poderia ser o último dia trabalhando e tendo um salário para o resto de nossas vidas. E que aposentadoria, só para quem cumprisse a pena de 35 anos contribuindo para o INSS e vivesse até os 75 anos.
Some-se a isso assaltos, alagamentos e a violência já tradicional de São Paulo e você entenderá meu desgosto em viver. 
Mas eu tinha uma filha pequena, minha Little Ramona, e por causa dela, fui começar tudo de novo bem longe, no meio do mato, ao lado de uma cidade pequena, mas com  o que a opinião pública pensa que é uma infra estrutura, Curitiba, e ali só adicionei a esta receita mais discriminação, assédios e violências.
Parti de novo e agora, quando esta data nefasta completa uma década, um acontecimento veio a sacudir os fãs que tão carinhosamente mantém a memória de meu ídolo viva: o livro I slept with Joey Ramone escrito por seu irmão: Mitch. 
Mickey Leigh, seu nome artístico, era até então muito querido por mim e pelo líder do Fã clube e meu amigo, Douglas Ramone. Acostumados ao jeito tímido e ao literalmente imenso líder dos Ramones e de uma geração, ficamos todos muito felizes e ansiosos para ler o livro.
Eu o comprei assim que foi disponibilizada reserva pela Simon and Schuster e demorei dois meses para o recebimento. 
Assim que ele chegou, eu o devorei (600 páginas) em quatro dias. Ri, chorei e me emocionei muito com o livro e o traduzi em 25 dias. Então decidi buscar apoio na comunidade de fãs para sua publicação e divulgação. 
Ali já começaram os problemas:
- insultos
-acusações
-ridicularização
e a cereja no bolo: um garoto espalhou que Mickey tinha escolhido um garoto para fazer a tradução.
Não pude confirmar a verdade deste argumento, mas ele deixou bem claro que eu seria processada se publicasse o que quer que seja.
Então Mickey Leigh veio ao Brasil (pasmem) com Ritchie Ramone. Um Ramone desaparecido há tempos, e que sempre se recusava a vir ao Brasil quando contatado.  Porque Mickey veio ao Brasil se seu livro não seria lançado? Porque ele se tornou sócio de um amigo que morava no Rio de Janeiro e abriram uma loja com o nome Joey Ramone Place. Que eu bestamente divulguei, inclusive. E ele veio para a inauguração.
Apesar de ter contato com ele no Myspace, no facebook e no twitter, eu achava estranho que, ao contrário do Marky, CJ e Tommy, ele na maioria das vezes ignorava minhas mensagens ou demorava para responder.
E quando veio ao Brasil, não foi diferente. Ele me ignorou completamente. Deixou bem claro que não estava nem um pouco interessado em pessoas comuns e apenas em trazer uma artista de novela da globo e divulgar (c0mo se ela precisasse de publicidade), deixando que ela assassinasse clássicos dos Ramones no famigerado show.
O pen drive com a tradução do livro foi parar no fundo de um armário. Muita coisa se perdeu.
Mas, meu amor pelo Joey e pelos Ramones, que tanto influenciaram a minha auto estima exacerbada e minha personalidade e modo de viver, nunca acabaram.
Por isso, aqui está minha visão do livro, que tem relatos não confirmados e até negados pelos demais Ramones. 
Isso descarta qualquer possibilidade de invejosos, arruaceiros e similares incitarem algum tipo de ação legal.
Espero poder compartilhar com os ocasionais fãs e leitores perdidos nestas páginas o que soube deste grande e inesquecível personagem, que cantava:


I don´t care about history
that´s not where I wanna be


eu não ligo para a história
não é onde quero estar.



Mesmo assim, e talvez até por ter ousado ser original, Joey, o tímido Jeffrey, entrou para a história.