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sexta-feira, 18 de março de 2011

Capítulo 1


1. Eu dormi com Joey Ramone - e com sua mãe também!

Neste capítulo Mitch conta:

Seus pais, Charlotte Mandell e Noel Hyman cresceram a poucos quilômetros um do outro no Brooklin, em Nova Iorque.
Estranhamente, eles se encontraram pela primeira vez a centenas de milhas de distância no resort Nevele em Catskills. A área de cima do estado conhecida como Borscht Belt que tinha se tornado um ponto de encontro pós segunda guerra para os jovens de origem judaica.
''Felizmente para meu irmão e eu, sem contar milhares de fãs dos Ramones, nossa mãe e pai se encontraram, na véspera de ano novo em 1946.
Eles se conheceram quando minha mãe Charlotte tinha 19 anos e aos 20 casou-se com Noel. “Eu queria sair de casa” - ela disse.''
Os pais de nosso pai nasceram no Brooklin, descendentes de judeus europeus de recursos modestos. Os pais de mamãe também  nasceram no Brooklin e judios, mas eram mais bem sucedidos. A família de Charlotte não estava muito otimista com o casal.
“Eu não estava vivendo de acordo com as expectativas do meu pai”, Charlotte explicou. “No começo, Noel era divertido. Era um cara mais velho, com um conversível. Eu queria animação na vida e ele também. Tivemos bons momentos juntos.
 Depois de casados foram morar num apartamento simples, na rua 95 no Upper East Side Manhattan.
Noel era muito trabalhador e proprietário de uma pequena empresa de transporte em caminhões chamada Noel´s Transfer. Charlotte saiu do emprego como artista comercial em uma agência de publicidade quando ficou grávida do meu irmão mais velho.
Jeff Ross Hyman nasceu em 19 de maio de 1951, no hospital Beth Irael em Manhattan. O jovem casal e seus mutuamente estasiados familiares comemoraram a alegria da chegada de Jeff, mas o abençoado dia não passou sem extrema aflição. A maior sobrecarga na vida do meu irmão tinha, na verdade, se formado antes que ele desse seu primeiro suspiro. Conforme a natureza quis o que deveria ser um outro feto que nunca se desenvolveu estava anexo a espinha. O termo médico para esta condição é “sacrococygeal teratoma”; que descreve o tipo de tumor com células  muito diferentes dos tecidos circunvizinhos. Isto ocorre em cada 35 a 40 mil nascimentos, com 76 por cento afetando meninas. Se o tumor é rápidamente removido, o prognóstico é bom. Se elementos do teratoma sobrarem – ou o diagnóstico for tardio – o risco de malignidade aumenta. Quando ele nasceu com  2.800 kg o teratoma era do tamanho de uma bola de baseball.
A cirurgia para remover o teratoma era extremamente  arriscada, devido a localização da massa, mas era inevitável; pois complicações piores poderiam ocorrer se o deixassem intacto. Algumas semanas depois, quando os médicos julgaram o corpo pequeno de Jeff forte o suficiente para suportar o trauma da cirurgia, o procedimento foi completado com sucesso. Algumas cicatrizes no tecido espinhal foram inevitáveis, o que poderia causar problemas neurológicos estrada afora. A extensão destes problemas seriam determinadas pelo tempo, mas os médicos estavam esperançosos que não haveria um efeito devastador, ou pelo menos, no desenvolvimento do Jeff.
Dois, aliviados pai e mãe  trouxeram Jeff de volta á saúde, e parecia que meu irmão maior estava a caminho de crescer um garoto feliz e normal.
 Mais ou menos um ano depois, papai, mamãe e Jeff foram para o Queens, se estabelecendo num reduto judeu de classe média chamado Forest Hills. Eles se mudaram para um apartamento ajardinado, aconchegado numa esquina da vizinhança, próximo a intersecção da Long Island Expressway e Grand Central Parkway. O apartamento deles era convenientemente localizado entre os dois maiores aeroportos da cidade: os aeroportos de La Guardia e Idlewild.
Na frente da casa, havia uma passagem sobre uma ponte que te levava para dentro do imenso Flushing Meadow Park, o local da Feira Mundial de 1939. O parque tinha o lago Meadows, onde a população podia alugar barcos a remo durante o dia e a noite assistir queima de fogos no verão. Forest Hills era uma comunidade pequena e amigável, um lugar divertido para crianças crescerem sadias e seguras.
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Então uma noite em outubro de 1953, pelos impulsos instintivos do papai e rendição de mamãe, eu comecei a me formar. Nove meses depois, eu me encontrei com eles e Jeff pela primeira vez.
Eles me deram o nome de Mitchel Lee Hyman.
Nasci em 15 de julho de 1954 no hospital geral de Forest Hills, eu passei na inspeção apenas com membrana nos dedões dos pés anotadas no meu registro permanente. Papai nos levou de carro para a casa nova que eles haviam recentemente adquirido para a família em expansão. Era do outro lado da rua do conjunto de apartamentos ajardinados em que eles moraram antes. Nossa casa tinha um ótimo quintalzinho dos fundos, com uma cerejeira pequena, e conforme Jeff e eu  crescíamos, ela também crescia.
 Jeff era um bom irmão maior, quando eu tinha medo a noite , fosse por causa de do barulho do foguetório através do lago ou após termos assistido a filmes como Invasores vindos de Marte, O olho rastejante ou A coisa, eu corria para sua cama procurando proteção:
- Socorro, Jeff – eu gritava - os monstros estão embaixo da minha cama e tentanto entrar aqui!
-Venha pra cá - Jeff oferecia, puxando as cobertas – pode dormir comigo, ficará seguro aqui.
Jeff tinha apenas 5 anos, mas parecia inconsciente dos perigos que se escondiam embaixo da cama. Talvez para Jeff, a vida real era suficientemente assustadora; a forma crescente da cicatriz na awpte inferior de suas costas sempre o lembravam de qual era o verdadeiro perigo.
Nossos amigos Reba e David moravam descendo a rua, e nossa mamãe se tornou boa amiga de seus pais, Hank e Frances Lesher.
- Eu me lembro - disse David Lesher – que nós costumávamos correr no estacionamento perto da minha casa e inventar brincadeiras malucas, como Doody Boy.
A brincadeira era basicamente inventar um nome glorioso. Em vez de “isto”, você era o Doody Boy. A principal estratégia era não ficar com o nome no final do dia, ou você teria que ir pra casa a pé com todo mundo rindo de você, berrando: Hey, Doody Boy! De qualquer jeito, Jeff frequentemente acabava machucando o Boy.
Um dia, nosso bando estava brincando no porão fracamente iluminado de um labirinto de fundação de apartamentos.
De repente, uma criança  gritou:
- Corram, tem um fantasma!
Todos nós gritamos e disparamos pra saída.
Mesmo com o berreiro das crianças, qualquer um pode ouvir o barulho do meu crânio se chocando com um tubo de ferro no caminho. Eu me encolhi no chão e comecei a chorar. A próxima coisa que aconteceu foi que Jeff me pegou dizendo:
- É melhor irmos pra casa!
Apesar de todo mundo estar fugindo, Jeff ficou para me levar embora dali.
O sangue cobria meus olhos e rosto. Jeff me abraçou, segurou minha mão e me levou pra casa para nossos horrorizados pai e mãe, que correram comigo para o médico. Tive a primeira dose de drogas pesadas e os primeiros pontos: 5 deles bem no meio da cabeça. Quando a anestesia começou a passar, eu abri meus olhos pra ver Jeff sorrindo pra mim segurando um mobile de aviõezinhos coloridos acima da minha cabeça. Ele tinha feito para mim enquanto eu dormia.
- “Cê gostou?” Jeff perguntou.
- Diga obrigado para o seu irmão maior – mamãe falou – ele te levou pra casa.
-‘brigado Jehhh.... – eu murmurei, ainda sonolento, enquanto papai pendurava o mobile que ele nos fez levantando no ar.
Na verdade, eu e Jeff não chamávamos nosso pai de “pai”. Nós o chamávamos de Bub. Um apelido que demos a ele quando ele chegava em casa e gritava:
- Hey Bub! – enquanto nos erguia para o alto.
- Hey Bub! – nós gritávamos em resposta a ele, repetidamente, pulando para uma segunda ou terceira volta. O nome pegou.
Nossa mãe era muito animada e amorosa. Estava sempre nos ensinando coisas, lendo histórias, ou mostrando-nos como desenhar. Ela se assegurava que ouvíssemos música de todo tipo, tudo desde canções infantis até clássicos como Pedro e o Lobo de Prokofiev. Fazíamos tudo juntos, como família. Mamãe, papai, Jeff e eu andavamos pelas ruas de mãos dadas, rindo.
Frequentemente recebíamos parentes e amigos para pernoitar em festas no porão, onde Jeff e eu eramos a atração principal, subindo no piano e cantando músicas como “When the saints go marching in” e “She´ll be coming round the mountain”.
Vovó Fanny, mãe do papai, comprou para Jeff um acordeão (sanfona) que ele amava.Ele aprendeu bem depressa, tocando de tudo em compasso “oompah” – provavelmente por ouvir muito Lawrence Welk. Eles me deram um ukulele, que eu adorava também. Infelizmente quebrou-se uma noite, deplois da nossa apresentação, quando ele pulando do piano e ele se espatifou no chão.
Um dia, depois de voltarmos para casa tendo visto pela primeira vez nosso primeiro circo no Madison Square Garden, Jeff exclamou:
-Hey, vamos tentar fazer igual o atirador de facas?
-É – eu disse – igual à fantástica família Fontaine!
Jeff pegou uma dúzia de facas de cortar bife da cozinha. Nós fomos para o gramado ao lado da casa e eu deitei no chão com os braços e pernas esticados. Jeff fez o barulho dos tambores.
Conforme ele fez voar a primeira faca, mamãe berrou da janela da cozinha:
- Jeffry! Não atire esta faca! – Bem na hora em que ela passava rente a minha cabeça.
- Ah, mãe, qual é? – eu expliquei – só estamos brincando de circo!
Ela veio correndo pra fora de casa com papéis e uma caixa de crayons (giz de cera).
- Nunca mais vocês dois brinquem com facas de novo, escutaram? Aqui, brinquem com isso – ela disse enquanto nos dava os crayons.
Logo que mamãe estava fora de cena, eu me estiquei de novo na grama e Jeff fez o rufar dos tambores e atirou os crayons em mim.
No inverno mamãe e papai sempre subiam conosco para Bear Mountain para patinarmos ou andar de trenó. No final do dia, nós entrávamos no  alojamento e jantávamos em frente a enorme lareira.
Uma vez lá em cima na Bear Mountain  inúmeras motos de escolta passaram bem na hora que entravamos no alojamento. Fomos aconselhados a esperar do lado de fora, no caminho da entrada, enquanto um desfile de  policiais e homens de terno escoltavam alguém que entrava.
- É o presidente! – papai gritou – acenem pra ele, quem sabe ele diz olá pra vocês!
Jeff e eu olhamos um para o outro e então começamos a pular gritando:
-Hey, presidente, diga olá!
Nós ficamos um pouco nervosos. Alguns meses antes,  estávamos na passarela sobre o Grand Central Parkway quando uma escolta de moto parecida passou embaixo. Naquele dia, nosso bando pegou alguns pedregulhos do lado da ponte atirando nos carros que passavam por baixo. Jeff Storch, o valentão da vizinhança, que sempre perturbava meu irmão, atirou uma pedra que acertou num dos carros na escolta. Pior que isso, alguns policiais estacionados na passarela nos viram fugindo. Jeff e eu agora ficamos com medo que o presidente estivesse sendo escoltado pelos mesmos policiais – que poderiam nos reconhecer. Mas, como não queríamos contar ao nosso pai sobre o incidente, continuamos acenando e gritando para o presidente.
Conforme ele se aproximava, nós chamamos sua atenção. O presidente dos Estados Unidos parou por um segundo e chamou os seguranças. Pensamos que estávamos numa enorme fria, mas antes que pudéssemos reagir estávamos apertando as mãos do  presidente Dwight D. Eisenhower. Ike (apelido do presidente) nos disse que era bom que fossemos bons garotose obedecessemos nossos pais.
Imaginamos que o presidente nos perdoou.
No verão, caminhávamos até o lago  Meadow   para pescar, fazer picnics, e navegar de barco a remo. Papai nos ensinou um jogo chamado: afundem o Bismarck. Colocavamos uma lata na água jogavamos pedras até afundá-la. Era nossa brincadeira favorita,  não tinham a menor idéia o que era o Bismarck.
Jeff tinha tendência a capturar borboletas, até teve um painel. Ele o montou num quadro especial com penduradores e escreveu o nome das espécies num espaço embaixo. A Mammoth Viceroy era a mais valorizada prêsa. O único problema era que Jeff nunca seguia as instruções de preservação e eles se desfaziam em menos de uma semana.
Jeff era um menino feliz como você podia ver em Forest Hills nos anos de 1950, rolando na grama, rindo, levantando, rodando em círculos com seus longos e lânguidos braços esticados e então caídos como um macaco atordoado.
Ele me pedia pra juntar-me a ele mas avisava:
- Não vomite me mim!
Eu fiz as duas coisas.
Nós encontramos maneiras de dividir simplesmente tudo: erguendo o outro em árvores em dias de sol e trocando os versos de “Oh! Susanna” no porão em dias de chuva.
Meu irmão mais velho era desinibido e intrépido, animado e talentoso, e , como disse antes, corajoso. Ele não era esquisito. Não era agressivo ou isolado, ou doente ou perturbado, ou solitário ou preocupado. Jeff era o menino sorridente, alegre, de pernas compridas, correndo atrás de borboletas, me chamando.
Quando fecho meus olhos e penso no meu irmão, estas são as primeiras coisas que eu vejo. 

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