http://www.recomenda.com.br/recomenda.asp?modo=0" target="_blank">Recomende esse blog!

domingo, 1 de maio de 2011

Nao fui eu, pai.


7.
Não fomos nós, papaipai

Nesta época, tudo mudava no mundo:

''Ouvimos o grito de rebeldia  “o jovem manda” ecoando no album do The Who “My generation”, mas Jeff e eu imaginamos que o que eles derreteram naquela música era só a ponta do iceberg sociológico. Uma noite num quarto de motel com papai no interior, ligamos a TV para assistirmos “Where the action is” (onde está a ação), o programa noturno de Paul Revere e os Raiders. Papai mudou de canal na mesma hora para a cobertura da guerra do Vietnam e disse que isso é que nós deveríamos estar assistindo.
- Aw, quêisso, cara? – Jeff o desafiou – Os Turtles vão passar na TV hoje!''
Como no trecho da música dos Turtles:
You say you´re looking for someone/Never weak but always strong/To protect you an´defend you/Whether you are right or wrong...But it ain´t me, babe.” (Você diz que procura alguém/nem fraco nem sempre forte/para protegê-la e defendê-la/Esteja você certa ou errada...mas não sou eu, babe).''

Música também cantada - ou talvez da autoria - do Jonny Cash, também famosa na versão do espertalhão do Bob Dylan, cujo lema é ''despejem dinheiro na minha conta bancária mas jamais se aproximem de mim.''

''Nossos pais devem ter ferrado com tudo; não podemos nos defender do que eles fizeram para este mundo, dois erros não fazem um acerto – era o provérbio da nossa fábula.''
E na época havia a segregação: ''estavam linchando o povo no sul, havia comentários sobre poluição do ar e da água que poderiam nos matar antes que nossos pais morressem, e nossos professores nos diziam para nos esconder em baixo das carteiras para nos proteger das bombas atômicas. Nós realmente acreditávamos que estávamos na véspera da destruição. Nós acreditávamos também que a juventude da America tinha os números agora, e nós estavamos tomando posse agora – com música!''

''... estas eram as coisas sobre as quais Jeff e eu conversávamos um com o outro, às vezes o dia e a noite toda.
Papai apoiava a guerra, mamãe não. Quem estava certo? Quem estava errado?
Sabíamos sobre a guerra, só não queríamos ouvir das fontes do nosso pai. Não confiávamos nelas.
- É importante e vocês vão assistir, – papai dizia, continuando sua leitura de quarto de motel – estes soldados estão lutando lá e morrendo pela America, como nós fizemos quando eu estava servindo.
-Nós ouvimos que a guerra é estupidez – Jeff persistia, tentando mudar de canal – e mamãe nos disse que nunca fossemos a França. E isto é diferente de qualquer forma, cara. Ninguém nunca sabe porque eles estão indo para lá.
-Hey – papai berrou – socando o braço de Jeff pra baixo e pondo um dedo em seu rosto – você faz o que eu disser. Eu me alistei e estava pronto a lutar, e vocês vão também quando chegar a hora. É melhor vocês aprender a respeitar. Do jeito que vocês estão começando a aparentar, não me surpreendo com o que ouço. O que a mãe de vocês tem lhes ensinado? Como ser beatnicks. E vocês são hipniks! Ou como quiserem chamar isto. E não me chamem de “cara”. Eu não sou o “cara”, sou seu pai. Não sou um dos seus beatnicks!''

Outro incidente veio a arruinar a relação do pai com eles:

''Quando deixamos o quarto de motel para jantar, Jeff  rodou o termostato até o fim para estar quente quando voltássemosm, já que estava congelando lá no alto das montanhas. Quando voltamos, o quarto estava um forno. O velho ficou tão furioso com Jeff que bateu nele através do quarto – por cima da cama – imprensando-o na parede. Foi a punição mais violenta que eu já tinha o visto praticar. Jeff não estava machucado, pelo menos não fisicamente, mas estava abalado. Ele ficou quieto pelo resto do final de semana. Eu me senti mau por ele e também dei ao velho o tratamento de silêncio também.''

Noel , o pai trouxe sua nova esposa com ele e a maltratava abertamente:

''Nós gostávamos de Nancy, então nos sentíamos mal e envergonhados da maneira com que papai a estava maltratando. Agora compreendíamos porque nossa mãe não quis ficar e suportar o comportamento de papai pelo resto da vida.''

Jeff tinha dezesseis anos, um ano de mudança antes do alistamento. 

Mas, os problemas continuavam a aumentar:

''Já que tinhámos nossas festinhas em casa, melhor que não ter nenhuma, o que pode ter nos estigmatizado nesta área bairrista de sólido judaísmo. Naquela época, era coisa de estatus e um rito de passagem de aparências. Chame de pressão religiosa. Nós não sentíamos vergonha só não éramos judeus muito religiosos. Nós provavelmente éramos os piores judeus do bairro. As crianças falavam e tinham uma tendência a repetir as coisas que os pais falam. Muitos de nossos vizinhos expressavam seu desapontamento com um olhar cáustico ou um balançar de cabeça quando passavam por nossa casa.
Não era como se fossemos para a frente da casa e fizéssemos churrasco de presunto nos dias sagrados, mas tocávamos música alto no porão em muitos deles. Talvez não fosse exatamento kosher, e  talvez eles tivessem uma carne legítima, mas ficamos surpresos com o quão intolerante um povo tão recentemente peguido poderia ser.
Como resultado, Jeff e eu desenvolvemos um estranho ressentimento pelo  nosso “próprio povo”. E nós imaginamos que seu problema conosco fosse mais por causa de dinheiro. Os vizinhos “meshugana”, como eles se referiam a nós, não dávamos valor a propriedade no quarteirão. Se era por isso, então nós judeus éramos o mesmo que todo o resto – nem melhor e nem pior.
Mesmo assim, nós tivemos uma uma bela festa, com todos nós, garotos, correndo atrás uns dos outros para dentro e fora da casa. Um dos meus amigos tinha atacado a maconha do irmão e eu acendi  atrás da garagem durante a festa, o cheiro se espalhando pelo quintal do fundo. Eu fiquei meio doido, além de tudo, era a minha festa, e eles nem mesmo me ofereceram um pouco. Talvez não fosse a ocasião certa para fumar meu primeiro baseado, ainda mais por eu ter ficado meio tonto depois de roubar um dos cigarros da mamãe e dados umas baforadas nele. Todos nós ficaríamos doidões suficientemente rápido.
Mamãe leu para nós uns artigos de jornal sobre gente que teve overdose de heroína e os perigos das drogas em geral. Cheirar cola tinha se tornado popular, e  ela nos avisou sobre perder células cerebrais e ficarmos lesados pelo resto da vida.
Mas Jeff e  eu não estávamos interessados em cola ou heroína. Nós queríamos nos tornar “experientes”, como Jimmy Hendrix definiu. Queríamos que nossas almas se tornassem “psicodelicalizadas”, como os Chambers Brothers  cantavam em “Time has Come Today”. Não havia limites na terra,   queríamos visões além daquelas que as nossas habilidaddes pudessem fornecer. Estes não eram tempos normais.''

Tudo mudou não só na revolução dos anos sessentar, mas na vida deles:

''Começamos a nos vestir como nossas estrelas do rock, ídolos, em calças bocas de sino, camisas de cetim, colares, echarpes, coletes, tudo que  parecesse com algo que The Who ou Jimmy Hendrix pudesse usar. Mesmo em Forest Hills tinha duas lojas que forneciam para a contracultura. Jeff e eu começamos a colecionar posters Day-Glo do mercado da moda, e também trouxemos alguns do Greenwich Village. Compramos uma luz negra ultravioleta e outra luz que faziam as cores dançarem pelo quarto, algumas tintas fluorescentes e pintamos estrelinhas no teto que você só podia ver na luz negra. Nós transforamos nosso quarto numa experiencia psicodélica, repleta de  shows de luz e música.
Uma noite, trouxémos mamãe ali dentro para a experiência cósmica. Ela estava realmente muito impressionada e imaginou o quanto aquilo era artístico, e, em sua opinião, inofensivo. Ela estava até encorajando nossa criatividade.
- Tomem cuidado com este incenso – ela disse – não me incendeiem a casa!
Nós estávamos no movimento hippie à nossa moda.''

As pessoas que moravam na casa deles, que tinha se tornada uma pequena pensão, afetavam seu comportamento, já que quem fugisse da vestimenta terno e tailleur naquela época era muito discriminado:

''Era estranho, estar sendo olhado de cara amarrada dentro da sua própria casa. Com todas estas pessoas indo e vindo dentro e fora de nossas vidas, nós nos tornamos progressivamente cientes do quanto estávamos distantes de sermos a “família típica”. Já tinhamos nos tornado forasteiros em nossa própria quadra. Jeff e eu designamos “People Are Strange”, do Doors como trilha sonora do ano.
Nós éramos as ovelhas negras da quadra, e até gostávamos disso. Jeff era a mais negra de nós. E conforme crescia, ele viajava mais fequentemente a Manhattan.
- Quando eu estava com uns dezesseis anos, eu fui ver o The Who no Muray the K na 59th Street – Jeff escreveu em seu jornal – Era a primeira vez que eles vinham a América,e eram realmente os grandes: o Who, Cream, Mitch Ryder ans the Detroit Wheels, os Vangrants, todas as bandas. Eu cheguei lá bem cedinho de manhã, se você chegasse lá suficientemente cedo, poderia ganhar um álbum grátis ou algo assim. Eu até trouxe minha máquina fotográfica Instamatic. O Who só tocou três músicas: “I can´t explain”, “Happy Jack” e “My generation” e eles me deixaram louco! Eram empolgantes, visuais e divertidos. Aí eles destruiram o equipamento! O Who era a minha banda favorita.''


A história dos famosos óculos de Joey Ramone:

''Jeff começou a sair pelo Greenwich Village, até nas noites durante a semana. Ele vinha para casa tarde, também. Isto causou algum sofrimento em mamãe, mas ela estava tendo problemas para controla-lo neste ponto. Jeff tinha quase dezessete anos. Sua banda, os Intruders, tinham se separado e ele estava procurando novos membros nos clubes e cafés perto de McDougal Street. Um encontro inesperado numa boutique do Village se tornou histórico.
Uma noite, ele voltou com um novo par de óculos e me perguntou como ficavam nele.
- É mais legal que os do Mr. Peabody que você tem – eu falei – Eles eram iguais ao do John Lennon e realmente ficavam bem no seu rosto. Mas as lentes não eram corretivas.
Ele pediu a mamãe para levá-lo ao oftalmologista para obter um par que ele pudesse usar. Ela concordou. Jeff saiu andando do consultório usando seus novos óculos de aro dourado, ovais, cor de rosa. O resto é história. Eles se tornaram uma extensão de sua cabeça. Mas desde que Jeff não tinha indicação médica para usá-los na escola, seus professores proibiram. Como resultado, ele passava muito tempo na sala da direção, onde ele esperava e tomava picolés.
Jeff estava ficando muito na defensiva quanto a remover seus óculos. Nosso pai se recusava a deixá-lo usar os óculos de maluco quando ele saía com ele.''

A mãe continuava tentando ajudar Jeff:

''Por um ano, minha mãe andava levando Jeff aos médicos e psiquiatras, tentando chegar à raiz de seu problema.'' 
(...)
Minha banda, o Overdose de Som tinha sido renomeada “Purple Majesty” e Jeff realmente gostava dela. Nós saímos pelo Village também. Saíamos à tarde e éramos agraciados na parada de metrô West Fourth Street por hippies pedintes/trocantes. O mais radical dos revolucionários nos ridicularizaria se não lhes déssemos dinheiro.
- Hey, yo-yos – eles gritavam – vocês não moram aqui, cara! Porque não voltam para o papai e mamãe riquinhos no Queens, ou de onde quer que tenham vindo?
Yo-yo era como eles chamavam pessoas que vinham passear no Village mas que não moravam ali – espécie de precursores do rótulo “ponte e túnel”, mais detestável, porque este hippies pensavam que estavam éticamente acima de nós. Era o começo da era “mais hippie que vocês”. ''
(...)
''Jeff se juntou a uma banda chamada Hudson Tubes, em homenagem a linha de trem que levava seus novos colegas de banda de seus locais nativos de New Jersey a seus  novos locais de barulheira no West Village. Ele estava tocando no Bitter End, Café Bizarre e Café Wha? O Hudson Tubes terminaria rapidamente depois que começou e Jeff se juntou a outra banda chamada 1812. Meu irmão estava tendo uma boa jornada e dando passos largos em direção a  ganhar confiança e aceitação que ele não tinha dos seus colegas em Forest Hills.
Mamãe estava um pouco preocupada pelas horas que Jeff gastava e as pessoas estranhas que telefonavam para ele – pessoas com nomes cósmicos que falavam em um mumbo jumbo psicodélico. Ás vezes Jeff não estava em casa, e eles conversavam comigo por horas sobre guerra e política. Eu imaginava porque estes caras mais velhos, legais, conversavam com um menino de treze anos por tanto tempo. Eu aprendi cedo demais que estas pessoas viajando, voando.
Jeff estava no topo disto agora. Uma noite ele me contou que tinha experimentado umas pílulas. Eu implorei para que ele me descrevesse isto.
- É como se você pensasse – ele disse, confirmando o que eu descobri mais tarde ser a única resposta certo no final.
-Wow! – eu disse.
Apesar de sua timidez, meu irmão tinha encontrado uma maneira de dizer uma porção de coisas com poucas palavras.''
    

Nenhum comentário:

Postar um comentário